A importância dos cinco vayus no processo evolutivo do yogui
Os bandhas
podem trazer diversos benefícios do ponto de vista físico, como o fortalecimento
de músculos mais profundos, o massageamento dos órgãos internos, além de
oferecer maior suporte e estabilidade ao corpo, impedindo lesões durante a
execução das posturas.
Há, entretanto, aspectos mais sutis da
prática de yoga que justificam sua utilização. Esse artigo do prof. Osnir
Cugenotta explica os aspectos
energéticos envolvidos com as práticas dos bandhas,
além de esclarecer o por quê de recomendações como a de não beber água durante
a prática de yoga e de se fazer um
resguardo de pelo menos meia-hora antes e depois da prática para comer ou
beber.
A
importância dos cinco vayus no
processo evolutivo do yogui
Por
Osnir Cugenotta
Descrita primeiramente nos textos tântricos,
a exposição dos pancavayus – ou cinco
vayus – é nitidamente o fruto da experiência interna dos yoguis tântricos. Por essa razão, ao
abrirmos um bom livro de Hatha Yoga, comumente nos deparamos com algumas
orientações, como não realizar asanas
de estômago cheio, evitar o banho logo após a prática, etc. Os motivos mais
profundos destes conselhos dificilmente são explicados e, por não serem
totalmente compreendidos, são frequentemente negligenciados ou raramente
seguidos.
A
verdadeira razão para tais orientações está diretamente relacionada aos cinco vayus – ou energias internas existentes
em todo ser humano-, os quais possuem tanto aspectos de controle das funções
orgânicas do corpo quanto aspectos energéticos mais profundos, como por
exemplo, o despertar da kundalini.
Além dos cinco prana vayus
principais, existem outros cinco vayus
secundários denominados upapranas.
Esses dez pranas têm como tarefa
principal controlar todas as funções do corpo humano.
Os cinco pranas principais são:
1-
Prana
vayu, que se
move da garganta ao diafragma e controla respiração, os batimentos cardíacos, a
circulação e a fala;
2-
Apana vayu, que se move na região abaixo do
umbigo e controla a exalação, todos os movimentos de eliminação, menstruação,
nascimento, ejaculação, as secreções intestinais e urinárias;
3-
Samana vayu, que se move entre o coração e o
umbigo e controla o sistema digestivo, todo tipo de assimilação, atua na
harmonia entre prana e apana, e também auxilia o coração e o
sistema circulatório;
4-
Udana vayu, que se move entre a garganta e o
topo da cabeça, controlando os órgãos localizados nesta região como olhos,
nariz, ouvidos e cérebro. Todos os receptores sensoriais são ativados por este vayu, que rege o ato de tossir,
engasgar, soluçar e engolir;
5-
Vyana vayu, que se move por todo o corpo levando
prana para todas as células do corpo.
Atua sobre a circulação, pensamentos, músculos e juntas. Este vayu é responsável pelos movimentos,
coordenação e a habilidade de manter a postura ereta – fundamental à meditação.
Os upapranas são:
1-
Naga, que controla o ato de vomitar;
2-
Kurma, que controla o abrir dos olhos;
3-
Krkara, que desperta a fome;
4-
Devadatta, que controla o ato de engolir; e
5-
Dhananjaya, que causa a distensão abdominal e o
inchaço, principalmente aquele que ocorre após a morte.
A Yoga -Chudamani-Upanisad declara:
“Aquele que possui o conhecimento sobre os vayus
é um yogui no sentido verdadeiro”. Está escrito no Hatha-Yoga-Pradipika 2:2: “Enquanto o prana se move, citta (a força mental) se move Quando o prana
se aquieta, a mente se aquieta”. Por essa ração num dos vyas-kutas (pontos-chave) do Bhagavad-Gita,
Arjuna diz (6:34): “Pois a mente ó Krsna é inquieta, turbulenta, obstinada e
muito forte e subjugá-la é, assim me parece, mais difícil que controlar o vento
(vayu).
A maioria das pessoas, quando lê essa
passagem, via de regra a interpreta erroneamente, acreditando que Arjuna está
dizendo ser tão impossível controlar a mente como controlar o vento. Na
verdade, ele está nos indicando o quanto é fundamental o conhecimento, controle
e maestria sobre os vayus, o que
torna possível o domínio e o controle da mente, das emoções e dos sentidos.
É importante
lembrar aqui a observação de Swami Niranjanananda Saraswati da Escola Bihar de
Yoga, em seu livro Yoga Darshan- Vision of the Yoga Upanisads, de que, quando nos referimos aos pranayamas, estamos falando do completo controle das funções dos pranas, e não daqueles exercícios
respiratórios praticados pelos yoguis
e yoguinis iniciantes. Somente quando
o prana passa a ser experimentado
dentro do contexto sutil dos chakras,
é que o verdadeiro pranayama
realmente tem início.
Os textos
tântricos descrevem uma técnica denominada prana
nigraha. A palavra nigraha
significa controle e, neste caso, prana
está associado aos prana vayus – mais especificamente aos três vayus: prana, apana e samana. Swami Niranjanananda Saraswati
em seu livro Prana Pranayama Prana Vidya explica este
conhecimento da seguinte forma:
Dos cinco pranas, os dois mais importantes são prana e apana. Prana é uma força que se direciona ao
interior, de ação ascendente, que se move do umbigo à garganta. Apana é uma força que se direciona ao
exterior, de ação descendente, movendo-se do umbigo ao ânus. Tanto prana como apana se movem espontaneamente pelo corpo, mas podem ser
controladas através de práticas tântricas e do yoga.
As Upanisads dizem que estas práticas
tendem a ser utilizadas para reverter as forças de prana e apana que movem
em sentidos opostos, objetivando sua união ao samana no manipura chakra. O Yogiraj Shri Shyama Charan
Lahiri Mahasaya, o Maha Guru do Kriya
Yoga, ensinava a técnica do Nabi kriya com este propósito, pois tal kriya tem como função primária
equilibrar as energias sutis de prana
e apana, direcionando-as e unindo-as
ao samana vayu no Nabi (manipura chakra), resultando essa união no despertar da kundalini. Swami Niranjanananda Saraswati relaciona o controle
sobre essas três forças ao comentário feito por Patanjali em seu Yoga Sutras dizendo: “Nos Yoga Sutras, o sábio Patanjali
fala dos três tipos de pranayama, mas
sua descrição é muito simples e breve. Ele diz que inspiração, retenção e
expiração são os três tipos de pranayama.
Quando as pessoas leem isso, elas acham que o processo físico de inspiração,
retenção e expiração representam os três tipos de pranayama mencionados, mas não é bem assim. Estes três estágios
representam na verdade o despertar dos três pranas.
A inspiração corresponde ao controle de prana,
a retenção corresponde ao controle de samana
e a expiração corresponde ao controle de apana.
Portanto, de acordo com este sutra, o
controle dos três pranas é o
verdadeiro pranayama, que é chamado
de prana nigraha”. Adicionalmente, a
indologista Tara Michael em seu livro Le Yoga, no capítulo sobre Hatha Yoga,
refere-se a prática do maha bandha
(ou seja o uso concomitante de mula
bandha, uddiyana bandha e jalandhara bandha), como uma das
técnicas recomendadas para proporcionar a mesma inversão dos vayus e sua união no manipura chakra.
Durante a
prática dos asanas e dos pranayamas, nós mudamos a direção do
movimento normal dos vayus. Ativamos
a força de apana vayu, que normalmente flui para baixo direcionando-a para cima, de
modo a utilizar esta fonte de energia para obter a iluminação.
A inalação
consciente dirige o prana para baixo,
o que abre a boca do susumna Nadi,
canal central localizado no interior da coluna, por onde deve fluir a energia
primordial. A contração consciente do assoalho pélvico (mula bandha) conduz apana
vayu para cima através da boca do susumna aberto. Quando o diafragma é
elevado durante a expiração e o abdômen é sugado para dentro e para cima na
prática do uddiyana bandha, prana, apana e samana vayus unem-se no susumna nadi. Logo, se comemos ou
bebemos algo logo após a prática dos asanas
ou pranayamas, samana vayu, que é
responsável pelas assimilações, voltará à sua função fisiológica, deixando de
auxiliar prana e apana vayu, e não poderá atuar em prol da
auto-realização. De igual maneira, se devido ao consumo prévio de fluidos,
houver necessidade de esvaziar a bexiga durante ou logo após a prática, apana novamente voltará a fluir para
baixo neutralizando assim os aspectos mais importantes e profundos dos asanas.
Portanto, na próxima vez que você se
deparar com estes conselhos, não os ignore e conscientize-se da sua
importância, penetrando um pouco mais no mais profundo dos aspectos do Yoga: o
despertar da kundalini ou a
iluminação da consciência.