28 de mar. de 2019

Yoga com Pressa


Compartilhamos aqui com vocês um texto da nossa querida aluna, Ana Cotrim.
Praticante de yoga desde criança, ela nos relata em seu texto sua vivência com a prática do yoga. Ana nos conta sobre as dificuldades, desafios e conquistas nesse seu caminho, que podem ser também a de cada um de nós que se aventura  na prática em seu tapetinho e para além dele. Boa leitura!

Yoga com Pressa
Por Ana Cotrim

Quando a gente é criança, fazemos tudo com os nossos pais. Bom, no meu caso, eu fazia tudo com minha mãe. Fosse ir ao supermercado, ajudar na cozinha, ir à missa ou às aulas de Yoga. Ao Yoga. Com menos de 10 anos, me lembro de estar em uma sala onde várias mulheres se reuniam para praticar e, no final, tomar chá. Eu achava engraçado fazer todos aqueles movimentos. A Debora, instrutora das aulas, me dizia que ao mesmo tempo que era engraçado virar os olhos pra cima, colocar a língua pra fora e rugir como um leão durante um exercício, também era muito bom para a saúde. Mas, de verdade, eu só ia pelo chá.

Naquela época, Yoga não era uma palavra comum na vida das pessoas. Era na verdade um monte de gente esquisita que se reunia pra meditar e se auto conhecer - o que também não fazia muito sentido. Hoje sabemos que é diferente. O Yoga se tornou mundialmente conhecido pelas mais diversas culturas e gerações, as quais estão constantemente buscando por autoconhecimento. E mesmo sem entender muito bem o porquê, eu ainda insistia em praticar.


Entre um ano e outro, constantemente me matriculava em alguma escola e me aventurava em posições mais avançadas. Cheguei a consegui fazer algumas posições bem bonitas pra postar no Instagram, mas outras me resultaram em fraturas e me fizeram escolher outra coisa pra chamar de hobbie.

Eu tinha pressa. Só não entendia muito bem do que.

A minha relação com o Yoga sempre foi uma relação de reencontro. Ia e voltava, mas estava sempre presente de alguma forma e em algum lugar. É tipo saber qual é a comida que combina com a sua série favorita em dia de chuva. Te faz bem, simplesmente porque essa escolha te permite se sentir com você mesmo.

Um dia desses, depois de um tempo, eu resolvi voltar a praticar. Mas dessa vez falei que era “pra valer” e defini algumas metas. Daquelas bem agressivas, sabe? Tipo acordar as 5 da manhã todos os dias pra praticar e meditar antes de dormir. Acontece que manter esse tipo de rotina nunca é fácil. Ainda mais eu, uma millennial de 29 anos que não perde uma conversa até tarde no celular.

Eu perdia a hora e tinha dias que não estava afim mesmo. “Fracassada” – eu escutava minha cabeça gritar.

Acontece que o mais difícil não era ir até a aula e sofrer por quase duas horas. No Yoga, sou eu e meu tapete. É ter que conversar comigo mesma.

Tem dias que essa conversa pode ser fácil, mas a real é que quase sempre a conversa é difícil – principalmente aqueles dias em que tudo o que você planejou deu errado e só quer ir pra casa dormir pra recomeçar. Mas não, eu me arrasto para praticar.

No começo da prática eu me sinto o máximo, com flexibilidade e força pra montar as posições. Mas esqueço de respirar ou de alguma passagem que fazem parte da sequência. Minutos depois, escuto a Vanessa, minha nova instrutora, dizer: “Repete mais 5 vezes”. Te juro que eu dou o meu melhor, só pra ela não me mandar repetir. Sinto tanta raiva de estar fazendo errado ou ter que fazer algo que eu “já sei”. Eu quero avançar e tirar o máximo daquela aula, mas quando eu menos espero, tenho que começar tudo de novo.

O pior não é ter que começar de novo. É ter que lidar com tudo aquilo que está dentro de mim. É querer explodir em choro enquanto uma sala cheia de desconhecidos descansa em savasana. É engolir aquele encontro comigo mesma.

Já haviam me dito que mergulhar neste universo do nosso “Eu interior” é um caminho que exige paciência, observação e prática. E foi aí que eu me dei conta do que o Yoga era de fato pra mim – ele era sobre a pressa. Pressa de querer hoje e amanhã conquistar, e depois nem se dar conta do que de fato essa conquista chegou a representar.

O Yoga, assim como tantas outras coisas na minha vida, me ensina como a pressa é apenas mais uma influência negativa a qual temos que compreender e superar. Que colar na traseira do carro da frente enquanto eu penso no compromisso que me espera, não vai me fazer chegar mais rápido. Da mesma forma que sonhar e projetar mentalmente uma vida diferente da que tenho, não substitui o fato de que a sociedade mundana existe e que é com ela que eu preciso lidar.

“Despertando devagar, sem pressa”, disse Ivan, meu outro instrutor de Yoga, ao encerrar mais uma prática custosa daquela semana. A pressa atrapalha. Atropela. Te impede de enxergar que o caminho é quem tem as respostas sobre como de fato vamos conseguir chegar. E aí sim, relaxar e aproveitar.

Quantas vezes, durante o dia, a gente se permite sentir de verdade? Sem que o telefone te distraia ou que a correria te faça esquecer de respirar? É difícil. É cansativo, eu sei. No minuto em que parecemos estar conscientes e no controle do momento presente, vem alguma coisa e te puxa pra longe e te coloca como figurante da própria vida.

Inspira. Expira. Que assim como no Yoga, possamos encarar cada experiência como respirações, para absorver com amor e leveza todo o aprendizado que a vida tem para nos dar.