19 de abr. de 2015

Os Yoga Sutras de Patanjali

Por Vanessa Malagó

Os Yoga Sutras são o mais antigo tratado de Yoga preservado até o presente. Ele descreve os trabalhos da mente humana e prescreve um caminho para alcançar uma vida livre de sofrimento, tendo como fundamento prático a meditação em seus vários níveis e aspectos. 

Ele foi composto numa data que varia, segundo estudiosos, entre os séculos II a.C e IV d.C, mas reflete práticas culturais bem mais antigas do que isso.

O texto é atribuído ao sábio Patanjali, que supostamente teria escrito também diversos textos sobre Ayurveda - a medicina tradicional indiana- e o Mahabhashya - o Grande Comentário da gramática sânscrita de Panini-, em uso ainda hoje. Existem muitas dúvidas em relação à vida e obra de Patanjali e isso se deve em grande parte ao costume que os autores daquela época tinham de atribuir a autoria dos seus próprios trabalhos a outros escritores já consagrados, para homenageá-los ou para dar relevância à própria obra.

Os tratados dos sistemas indianos, sobretudo os Yoga Sutras, são codificações de teorias que já eram conhecidas, praticadas e sustentadas por seguidores, muito antes de terem sido registradas em forma escrita. Patanjali, portanto, não foi o criador dos Yoga Sutras, mas aquele que codificou essa tradição. A escrita era privilégio de poucos e havia uma forte tradição oral. Os textos eram memorizados e repetidos, e dessa forma, preservados.

O caráter oral da cultura acabou impondo a necessidade de artifícios para facilitar a memorização. Assim, diversos tratados e textos indianos antigos aparecem registrados na forma de sutra, frases extremamente concisas. A palavra sânscrita “sutra” vem da raiz “siv” que significa “costurar”. Os sutras não traziam explicações detalhadas sobre determinado assunto, não apresentavam o caminho percorrido até determinada conclusão, mas representavam a síntese dessas conclusões e serviam para manter diante do leitor o “fio condutor” de ensinamentos com os quais ele já estava familiarizado.

“No contexto em que eram produzidos, o estudante que os recebia dispunha de um mestre a quem recorrer. No nosso caso, porém, temos que contar com o apoio de inúmeros comentários, provavelmente produtos do recurso mais intenso à escrita a partir do período clássico, e que, ao longo dos séculos foram sendo anexados pela tradição à fonte dos textos principais.” (Lilian Gulmini , 2002) Um dos principais e mais antigos comentários sobre os Yoga Sutras é o Yoga-Bhasya, de Vyasa, que provavelmente foi escrito no século V d.C.  

O entendimento dos Yoga Sutras não é uma tarefa fácil, pois como comentamos anteriormente, os sutras corporificam o máximo da arte da condensação e trazem ensinamentos em sua síntese. Hoje há diversos títulos em português que apresentam os Yoga Sutras com seus comentários. Esses podem ser a porta de entrada para você começar a aprender sobre o tema, entretanto ele não é um conhecimento teórico e seu entendimento envolve muita prática. Nas palavras de Pedro Kupfer  (2013) “admitir o Yoga Sutra como um texto teórico é admitir a si mesmo como uma teoria. Os temas centrais do texto são o conhecimento de si mesmo e a praxis desse conhecimento. Uma parte dele fala sobre autoconhecimento e a outra, sobre as práticas para se manter em consciência de si. A proporção de teoria no texto chega a 0%.” 

Como afirma Swami Vigyanchaitanya Saraswati (2002) os Yoga Sutras apontam para verdades que devem ser vividas, respiradas e meditadas na vida diária. 

Em nossos próximos artigos, trataremos sobre alguns desses ensinamentos. 

Veja também esses artigos:
- Sofrimento e Libertação
- Mantra para Patanjali


Referências:

GULMINI, Lilian – Tese de mestrado USP – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - O Yoga Sutras de Patanjali – Tradução e análise da obra à luz de seus fundamentos contextuais, intertextuais e lingüísticos. – 2002
KUPFER, Pedro – Artigo: Repensando oYoga Sutra – Junho/2013 
TAIMNI – A ciência do Yoga (Comentários sobre os Yoga-Sutras de Patanjali à luz do Pensamento Moderno) –  2ª. Ed., Editora Teosófica - 2001 
SARASWATI, Swami Vigyanchaitanya – Artigo: Living Patanjali's Yoga -The Vrittis and Our Programming – November/2002