Sofrimento e Libertação
Por Vanessa Malagó
Nas palavras de Pedro Kupfer (2001), há algo
que é comum a todos os homens: a potencialidade de nos conhecer e de mergulhar
no oceano da consciência. “O Yoga é o
instrumento que usamos para dar esse mergulho: ao mesmo tempo o ato de
mergulhar e o lugar aonde chegamos.”
Os Yoga Sutras de Patanjali, um dos mais
importantes textos sobre o yoga, nos oferece um mapa para embarcarmos nessa
viagem rumo ao autoconhecimento. Como comentamos no artigo anterior sobre os
Yoga Sutras, seu entendimento não depende de um exercício intelectual, mas
muita prática. Olhando o mapa de uma cidade não podemos dizer que a conhecemos.
É preciso andar por suas ruas, explorá-las, conhecer as pessoas. Assim, os Yoga
Sutras são apenas um guia, o conhecimento vem da experiência direta.
Os Yoga Sutras tratam de um tema presente
em diversas filosofias indianas: o sofrimento. A experiência humana, de
qualquer natureza que seja, envolve sofrimento. “Tudo é sofrimento para o
sábio”, afirma Patanjali (Yoga Sutra, II-15).
Taimini comenta sobre isso: “... ao homem do
mundo, imerso em sua busca ilusória do prazer ou do poder, a vida pode parecer
uma mistura de prazeres e dores, alegrias e tristezas... mas para o homem sábio
sua felicidade ilusória não passa de uma pastilha açucarada, contendo oculta em
seu interior apenas dor e sofrimento.” (Taimini, 2001)
Essa miséria existencial não ocorre
em função de condições materiais, econômicas ou sociais difíceis. Mesmo aqueles
que têm uma vida próspera estão sujeitos a ela. “O homem pode perceber que,
mesmo quando todas as suas necessidades e perturbações físicas, mentais, morais
e financeiras forem eliminadas, permanece sempre nele uma espécie de inquietude
e de agitação interior, uma instabilidade, uma insatisfação, uma falta, seja
qual for a extensão de seus sucessos exteriores”. (Michael, 1976).
O problema reside no fato de que não
se pode saborear um estado de felicidade perpétua, a felicidade é sempre
transitória.
Essa pode parecer uma visão bastante
pessimista da existência , mas Patanjali vai além disso. Ao longo do texto
vamos aprender que o sofrimento tem causa e que há um meio de por um fim a ele.
O yoga é o método que Patanjali apresenta para libertar-nos do sofrimento.
E o que causa a dor e sofrimento
humanos? Esse é o tema que discutiremos em nosso próximo artigo. Enquanto isso,
convidamos você a investigar sobre essa questão e realizar a prática sugerida
abaixo:
PRÁTICA
Durante sua prática de meditação,
observe o fluxo espontâneo dos seus pensamentos. Deixe a mente estar, sem
interferir. Deixe-a seguir seus impulsos e tendências sem restrições. Apenas
observe-a, sem fazer nenhum tipo de julgamento ou crítica e procurando também
não se deixar levar pelos pensamentos e envolver-se com eles. Um pensamento
chega, você o observa e então deixa que vá embora. Esteja ciente de cada
pensamento, colocando-se como uma testemunha imparcial desse processo.
Perceba o que chama a atenção de sua
mente, veja se há padrões de pensamentos, se os pensamentos se repetem, se eles
possuem alguma qualidade perturbadora.
Você pode também, nas atividades em
geral do seu dia-a-dia, observar o quanto está presente naquilo que realiza. O
que lhe tira desse estado de presença? O que lhe distrai? Observe os pensamentos
que vem a sua mente.
Boas
práticas e até a próxima semana!
Referências:
KUPFER,
Pedro – Yoga Prático – 3ª.Ed., Fundação Dharma – 2001
MICHAEL,
Tara – O yoga, Zahar Editores, 1976
TAIMNI
– A ciência do Yoga (Comentários sobre os Yoga-Sutras de Patanjali à luz do
Pensamento Moderno) – 2ª. Ed., Editora Teosófica - 2001