Desenvolvendo sua prática pessoal de Asthanga Vinyasa Yoga
Por Vanessa Malagó
As aulas no estilo Mysore, como o método é ensinado tradicionalmente, em que cada aluno vai construindo a sequência em seu próprio ritmo, oferece também ao praticante uma maior autonomia em relação às aulas guiadas. Esse é um aspecto importante dessa metodologia, que permite ao praticante vivenciar a prática de uma forma bastante pessoal e única. Diferente de um aluno que é conduzido a cada aula, aqui o aluno é quem assume a condução e o ritmo, o que o coloca numa postura mais ativa e responsável diante de sua própria prática.
Escrevi
recentemente dois artigos que tratam sobre a importância de se ter uma prática
pessoal de yoga e como começar a desenvolvê-la. Hoje abordarei novamente esse
tema, mas sobre a perspectiva de um praticante de ashtanga vinyasa yoga. Sugiro
que antes ou depois da leitura desse artigo, você dê uma olhada nesses dois
outros textos, que são complementares ao que abordaremos agora:
A importância de ter uma prática pessoal de yoga
Como desenvolver sua prática pessoal de yoga
A grande dúvida que os praticantes se deparam quando decidem
iniciar uma prática em casa é como construir uma sequência equilibrada de
posturas. No caso do ashtanga vinyasa yoga, trabalhamos com séries fixas de
posturas, o que pode facilitar a vida de quem quer começar sua prática pessoal
em casa.A importância de ter uma prática pessoal de yoga
Como desenvolver sua prática pessoal de yoga
As aulas no estilo Mysore, como o método é ensinado tradicionalmente, em que cada aluno vai construindo a sequência em seu próprio ritmo, oferece também ao praticante uma maior autonomia em relação às aulas guiadas. Esse é um aspecto importante dessa metodologia, que permite ao praticante vivenciar a prática de uma forma bastante pessoal e única. Diferente de um aluno que é conduzido a cada aula, aqui o aluno é quem assume a condução e o ritmo, o que o coloca numa postura mais ativa e responsável diante de sua própria prática.
Quem está
acostumado a uma aula Mysore normalmente enfrenta menos dificuldade para
começar a sua prática em casa. Você já sabe por onde começar e já está
acostumado a conduzir sua própria prática. Por outro lado, por ser uma prática
bastante vigorosa e relativamente longa, pode se sentir desencorajado. Instituir
uma nova rotina é sempre um desafio e independente da modalidade de yoga que se
faça, vale a mesma dica: comece devagar. Pode até ser que você
consiga reservar 1h30 a 1h45 para fazer sua prática, mas se isso já não faz
parte de sua rotina regular, é bem possível que essa iniciativa só dure nas
primeiras semanas. Assim para não deixar esse entusiasmo inicial se esmorecer,
sugiro que você reserve um tempo menor de início para praticar, mas realmente
se comprometa com ele nos primeiros meses. Assim você construirá uma rotina e
poderá gradualmente ir aumentando seu tempo de prática.
Alguns alunos deixam de lado a ideia de iniciar uma prática
em casa por não disporem do tempo necessário para fazer a sequencia toda. Em
minha opinião se você tiver 15 minutos apenas, já está valendo.
Mas aí, não tendo como executar toda a sequência, vem a
mente a mesma dúvida que abate todos que se propõe a iniciar uma prática em
casa: o que praticar? Se você começar com 15 minutos, não se preocupe com a
sequência, você poderá fazer algumas saudações ao sol como aquecimento e depois
trabalhar um pequeno grupo de posturas ou então dedicar esse tempo para algum
exercício respiratório ou técnica de concentração. A prática a ser realizada
vai depender muito de cada pessoa e o seu professor, conhecendo suas
dificuldades e necessidades, certamente poderá lhe ajudar nisso, recomendando o
que pode ser mais interessante para você fazer de início.
À medida que você vai aumentando o tempo de prática, pode
começar a trabalhar com partes da sequência. Se você tem em torno de 45 minutos
para praticar em casa, pode fazer as saudações ao sol, as posturas de pé ou
parte delas e depois fazer as posturas finais.
No tempo que você dedica para sua prática pessoal pode ser
interessante também explorar algumas coisas de forma diferente. Quando você faz
aula com um professor, ele provavelmente lhe dará orientações sobre
alinhamento, em que distância afastar seus pés, como posicionar os braços, etc.
Você pode dedicar alguns dias da sua prática em casa para brincar e explorar o
alinhamento nas posturas. A proposta do yoga é nos tirar do automático, nos
trazer um estado de presença. Mas mesmo em nossa prática podemos cair na cilada
de fazer tudo automaticamente. Nesse sentido é importante nos questionarmos
quanto ao porquê de determinado alinhamento, por exemplo. Não se contente com
um “ Essa postura deve ser feita dessa forma, porque é assim que é ensinada
pelo Guruji...”
Isso pode em certo ponto chocar os “tradicionalistas”, mas
acredito que é importante encontrarmos nossas próprias respostas. Não quero
dizer com isso que não devamos seguir as orientações que nos são dados por
nossos professores. Pelo contrário, é importante
estar aberto a experimentar. Numa aula é importante ouvir e respeitar o que seu
professor tem a lhe ensinar. Faça o que ele lhe propõe, mas sempre com esse
estado de presença, observando, sentindo. Que sensações a postura te traz com esse
alinhamento? Que partes do seu corpo você sente serem acionadas?
À medida que você ganha mais experiência com a prática e
consegue trabalhar com as posturas de forma relativamente segura, vale a pena
quebrar paradigmas e explorar uma postura que você conhece de forma diferente
em sua prática pessoal. A Trikonasana, por exemplo, é uma postura que é
executada de forma diferente no Iyengar Yoga e no Ashtanga Vinyasa. Na prática
de Iyengar os pés ficam bem mais afastados do que na de Ashtanga. Alguns alunos
às vezes me perguntam: Qual a forma correta de se fazer essa postura? E a
resposta é: não há uma única forma para se fazer a postura e as duas posturas
estão corretas, dependendo do que se quer atingir. As intenções e as sensações
produzidas pelas duas posturas são diferentes.
Traga para sua
prática pessoal esses questionamentos e esse tipo de investigação. No ashtanga normalmente fazemos a postura do
lótus, trazendo o pé esquerdo em cima do direito. E se eu fizer o lótus
diferente, como sinto isso na minha prática? Em minha prática pessoal sempre
procuro explorar essas possibilidades. Por que as
posturas do ashtanga são feitas nessa sequência? E se eu mudar a ordem de
alguma postura, o que acontece? E se deixar minha respiração mais longa? O que
acontece se fizer a sequência intensificando a respiração ujjayi? E se deixá-la
mais suave?
Outro ponto que pode ser explorado em sua prática pessoal é
o tempo que você permanece em cada postura. Nas aulas você recebe a orientação
para permanecer nas posturas por um determinado número de respirações. Esse
número é uma referência básica para ser seguida numa aula. Isso não significa
que você deva sempre trabalhar a mesma permanência. Estando sintonizado com seu
corpo e seu estado interno, você poderá perceber que em alguns dias, pode ser
bom variar essa permanência. Se você quer dar ênfase a uma postura que lhe
parece mais desafiadora, pode ampliar essa permanência. Mesmo numa postura que
é feita do lado direito e esquerdo, pode ser interessante variar o tempo que se
permanece de cada lado. Se você perceber, por exemplo, que tem um lado mais
fraco ou menos flexível que o outro, pode dedicar mais tempo nesse lado do que
no outro para buscar fortalecê-lo e assim, equilibrar melhor os dois lados. Se
você se sente meio aéreo, por exemplo, precisando aterrar-se, pode ser
interessante dedicar mais tempo às saudações ao sol e posturas de pé da
sequência. Se está se sentindo mais cansado, então pode dedicar mais tempo a
algumas a algumas posturas invertidas, que tem efeito restaurador.
Você vai sentir
que mesmo trabalhando uma sequência fixa de posturas, terá a cada dia uma
prática bem diferente da outra. Até porque a cada dia estamos de um jeito
diferente. De tudo que tratamos até agora deu pra perceber que desenvolver sua prática pessoal de ashtanga não é
simplesmente repetir em casa uma sequência que você aprendeu em aula, mas
usá-la como um instrumento para o seu autoconhecimento. E é quando estamos nessa sintonia, que vem o “flow”,
um estado prazeroso, de concentração absoluta, como uma meditação em movimento.