26 de ago. de 2014

O corpo como instrumento para a prática espiritual



Em seu livro, Luz na Vida, o mestre indiano B.K.S Iyengar revela o que ele próprio descobriu em seus mais de 70 anos de prática de yoga.  Trazemos aqui alguns trechos desse belo livro, em que ele fala sobre a importância do corpo e o asana como caminho para a prática espiritual.


“As técnicas oferecidas pelo yoga fazem que fiquemos atentos, levam-nos à expansão e ao aprofundamento, à mudança e à evolução com a finalidade de nos tornar aptos e despertar nossa sensibilidade e receptividade para uma vida da qual só temos uma vaga consciência. Começamos no plano do corpo físico, o aspecto mais concreto e acessível a todos nós. É aqui que a prática de asana e pranayama nos permite entender o corpo com um discernimento maior e, por meio dele, compreender a mente e chegar à Alma. Para o yogue, o corpo é o laboratório da vida, um campo de experimentação e pesquisa permanente.


Para o yogue, o corpo físico corresponde a um dos elementos da natureza, a terra. Somo barro mortal e retornamos ao pó. Todas as culturas reconhecem essa verdade, mas hoje em dia nos a encaramos como simples metáfora. É mais do que isso, no entanto. Quando explora seu corpo, você está explorando de fato, esse elemento da própria natureza e desenvolvendo dentro de si as qualidades da terra: solidez, forma, firmeza e força.

....

À medida que aperfeiçoamos o asana, começamos a entender a verdadeira natureza da nossa corporificação, do nosso ser e da divindade que nos anima. E quando nos libertamos das incapacidades físicas, das perturbações emocionais e das distrações mentais, abrimos os portões da alma. Para compreender isso, é preciso mais do proficiência técnica; cada asana deve ser realizado não como um simples exercício físico, mas como meio de entender o corpo e então integrá-lo com  a respiração, a mente, a inteligência, a consciência e o centro. Dessa maneira, pode-se experimentar a verdadeira integração e alcançar a liberdade suprema.



A única coisa que a maioria das pessoas espera do corpo é que ele não as incomode. Elas se sentem saudáveis se não estão padecendo de nenhuma enfermidade ou dor, sem se dar conta de que o desequilíbrio que existe no corpo e na mente acabará por fazê-las adoecer. São três os efeitos do yoga sobre a saúde: ela mantém saudáveis as pessoas sadias, inibe o desenvolvimento de doenças e ajuda a combater enfermidades.



Mas a doença não é só um fenômeno físico. Tudo que perturba sua vida e sua prática espirituais é uma doença e, com o tempo, se manifestará em alguma enfermidade. A maioria das pessoas separou a mente do corpo e baniu a Alma da vida cotidiana, por isso esquece que o bem-estar dos três (corpo, mente e Alma) está intimamente entrelaçado, como as fibras musculares.

....

A prática dos yogasanas com o objetivo de ganhar saúde, manter a forma ou conservar a flexibilidade é o exercício externo do yoga. Embora seja um bom ponto de partida, não é o fim. Quando penentramos mais fundo no corpo interior, a mente submerge no asana. A prática externa inicial mantém-se monótona e periférica, enquanto a segunda prática, mais intensa, literalmente encharca o praticante de suor, impregnando-o a ponto de fazê-lo buscar os efeitos mais profundos do asana.



Não substime o valor do asana. Mesmo nos asanas mais simples, podem-se experimentar os três níveis da busca: a busca externa, que dá firmeza ao corpo; a busca interna, que dá constância à inteligência; e a busca mais profunda, que traz benevolência. Embora o iniciante geralmente não perceba esses aspectos quando está praticando o asana, eles estão presentes. Muitas vezes ouvimos as pessoas dizerem que se sentem ativas e leves mesmo com pouco prática. Quando um principiante experimenta esse estado de bem-estar, não se trata simplesmente dos efeitos externos ou anatômicos do yoga. Trata-se também dos efeitos fisiológicos e psicológicos da prática.



Enquanto o corpo não estiver perfeitamente saudável, você ficará preso na consciência do corpo, e nada mais. Isso o desvia do objetivo de curar e cultivar a mente. Precisamos de um corpo vigoroso para desenvolver uma mente vigorosa.”